
A Ferrovia do Trigo, vital para o transporte de cargas e o turismo no Rio Grande do Sul, permanece com diversos trechos obstruídos desde as enchentes de maio de 2024. No entanto, há perspectivas de recuperação parcial ainda em 2025, especialmente no trecho entre Guaporé e o Viaduto 13, um dos mais emblemáticos da linha.
Avanços na recuperação
A Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), liderada por Marlon Ilg, está em negociações com a Rumo Logística para assumir as obras de restauração desse segmento. A intenção é firmar um contrato de cessão de uso do trecho ferroviário, permitindo que a ABPF conduza os trabalhos de recuperação.
Segundo Ilg, a ABPF possui experiência em operações ferroviárias, sendo responsável por nove operações em todo o Brasil, com locomotivas a diesel, vagões de carga e serviços turísticos. A entidade planeja iniciar os trabalhos em até 15 dias após a assinatura do contrato, dividindo as obras em etapas. A primeira fase contemplará a recuperação de aproximadamente 17 quilômetros entre Guaporé e o Viaduto 13, demandando investimentos relativamente modestos.
Impacto econômico e turístico
A retomada do trecho entre Guaporé e o Viaduto 13 é vista como crucial para a economia das cidades envolvidas. O Viaduto 13, também conhecido como Viaduto do Exército, é o maior viaduto ferroviário da América Latina, com 143 metros de altura e 509 metros de extensão, localizado entre os municípios de Vespasiano Corrêa e Muçum.
O Trem dos Vales, que percorre essa região, atraiu cerca de 115 mil passageiros em quatro anos de operação, gerando R$ 18 milhões para a economia local e beneficiando mais de 350 empreendimentos, incluindo hotéis, restaurantes e agroindústrias. A suspensão dos passeios devido aos danos na ferrovia impactou negativamente o turismo e os negócios locais.
Desafios e investimentos necessários
As enchentes de 2024 causaram danos significativos à Ferrovia do Trigo, com cerca de 60 pontos de deslizamentos e 7 quilômetros de trilhos danificados. A recuperação completa da ferrovia está estimada em R$ 102 milhões e pode levar até três anos para ser concluída. A Rumo Logística, atual concessionária da ferrovia, possui contrato com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) até fevereiro de 2027. O seguro obrigatório da empresa poderá contribuir com até R$ 300 milhões para a reconstrução das vias atingidas pelas enchentes, embora o montante necessário para a recuperação total ultrapasse R$ 3 bilhões.
A ABPF, juntamente com prefeitos e empresários da região, busca apoio dos governos estadual e federal, além de investimentos das prefeituras e da iniciativa privada, para viabilizar a retomada dos passeios turísticos e a recuperação econômica das áreas afetadas.
Perspectivas futuras
A recuperação da Ferrovia do Trigo e a retomada do Trem dos Vales representam não apenas a restauração de uma importante rota de transporte, mas também a revitalização do turismo e da economia regional. Com esforços conjuntos entre entidades públicas e privadas, espera-se que os trilhos voltem a impulsionar o desenvolvimento das comunidades ao longo de seu percurso.
TEXTO – José Raimundo Tramontini
FOTO – Foto: Amturvales/@travelumtur>