Vereador protocola pedido de impeachment contra Eduardo Leite: “arrogantes e não admitem que podem estar errados”

O vereador de Porto Alegre, Jessé Sangalli (PL), protocolou na tarde da sexta-feira (20) um pedido de impeachment contra o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), na Assembleia Legislativa. O parlamentar municipal acusa o chefe do Executivo de crimes de responsabilidade e improbidade administrativa.
Entre os motivos, estão o financiamento público a um documentário sobre as enchentes de 2024, o apoio financeiro ao desfile da escola de samba Portela, no Rio de Janeiro, e o modelo de pedágios conhecido como free flow, adotado em parte das rodovias gaúchas.
O pedido foi tema de entrevista concedida na manhã desta segunda-feira (23) à Rádio Encantado FM 104.7. Segundo Sangalli, as ações do governador indicam desvio de finalidade e utilização da máquina pública em benefício da sua pré-candidatura à Presidência da República. “O governador há muito tempo parece que não está mais governando para o Estado, mas sim destinando recursos e atenção do governo para sua pré-candidatura”, afirmou.
Sobre o documentário "Todos Nós Por Todos Nós", produzido pela Secretaria de Comunicação (Secom), Sangalli afirma que o material, que custou cerca de R$ 500 mil, tem caráter de promoção pessoal. “Basicamente, 20% do tempo aparecia a imagem ou a voz do governador. Ao invés de ser um registro da reconstrução, virou uma peça de publicidade”, declarou.
O vereador também critica o apoio do governo gaúcho à Portela, que em 2026 fará um desfile homenageando a ancestralidade negra do Rio Grande do Sul. Para ele, a destinação de recursos para uma escola de samba do Rio de Janeiro não tem relação com os interesses do Estado. “A população que estava indignada acabou tendo pelo menos dois grandes episódios de desperdício de dinheiro público”, disse.
A terceira motivação do pedido de impeachment é o modelo de pedágio free flow, que, segundo Sangalli, tem gerado uma série de multas por falta de informação da população sobre o funcionamento do sistema. “Nos primeiros 10 meses, foram 250 mil pessoas multadas. E só foram implementados seis pórticos. Quando chegar a 30, isso deve aumentar muito mais”, alertou. Ele também classificou a cobrança como um “triplo pagamento”, somando IPVA, ICMS sobre combustíveis e os pedágios.
Sangalli afirmou que a repercussão do pedido foi muito maior do que esperava, especialmente nas redes sociais. “O vídeo que eu coloquei sexta-feira no Instagram está com 42 mil curtidas e 700 mil visualizações. No Facebook, mais 600 mil. Isso mostra que as pessoas realmente esperavam que algo assim acontecesse”, comentou.
O vereador também criticou o que chamou de omissão de parte dos deputados estaduais. Segundo ele, cabe agora à Assembleia Legislativa decidir se aceita ou não o andamento do processo. “Se acolherem, será aberto um processo e o governador pode ser afastado. Se não, será arquivado. Mas, de qualquer maneira, está nas mãos dos deputados decidirem se querem que essa rejeição ao governador Eduardo Leite recaia sobre eles ou se vão deixar que ele pague pelo que tem feito ou deixado de fazer”, disse.
Em resposta, a Casa Civil do Estado afirmou, por meio de nota, que o pedido de impeachment é “juridicamente inconsistente” e que distorce informações públicas. A nota também atribui motivação política ao ato, destacando que Sangalli é suplente de deputado estadual e integra um grupo que, segundo o governo, adota postura de “oposição radical”.
“Existe uma certa soberba do governador e da sua equipe. Porque sempre que a gente critica, é como se eles achassem que todo mundo fosse idiota e que eles fossem inteligentes, e que nós não entendêssemos a importância das coisas que eles fazem. Mas, na prática, tudo se resume a aumento de imposto, aumento de burocracia ou algum tipo de armadilha para multar as pessoas. As pessoas são inteligentes. Eles são arrogantes e não admitem que podem estar errados. E se o chefe da Casa Civil, Artur Lemos, quiser participar de um debate sobre esse tema, eu vou ser super receptivo a ele”, afirmou.
Texto - César Augusto Husak
Foto - Júlia Urias/Câmara Municipal de Porto Alegre