
A chimpanzé Donna nasceu fêmea, mas se comportava como do gênero masculino. Andava mais na companhia dos machos, que não tinham interesse sexual por ela (assim como Donna não tinha por eles), e agia da mesma forma que eles, como em brincadeiras de simulação de agressividade. Ela desenvolveu pelos mais longos que os das fêmeas e conseguia eriçá-los, como só é comum entre machos da espécie, conta o primatólogo holandês Frans de Waal. Essa é uma das histórias que ele conta em seu novo livro, "Diferentes", baseado em quase cinquenta anos de observações e pesquisas com chimpanzés, bonobos e humanos. De Waal parte dos últimos avanços científicos no estudo de primatas, assim como em seu próprio entendimento do assunto, para debater questões contemporâneas acerca de sexo e gênero. "O sexo é biológico, já o gênero, cultural, pois é o papel de cada sexo na sociedade." "A identidade de gênero tem fator biológico e por isso que se pode nascer com um sexo, dependente do seus cromossomos, mas com outra identidade de gênero. É o que mostra a Ciência e, também, as observações de primatas na natureza — e, para mim, humanos são primatas", disse de Waal à BBC News Brasil. O escritor e filósofo Yuval Noah Arari descreveu a obra do primatólogo como "um livro brilhante que traz uma abordagem científica, compassiva e equilibrada sobre sexo e gênero". Mas os elogios não foram unânimes dentro da comunidade científica.
TEXTO - BBC Brasil
FOTO - Ilustrativa