Languiru vai fechar supermercados e parar com a produção de suínos

Na manhã do sábado (27), a nova direção da Languiru apresentou o plano de reorganização da empresa em reunião que contou com a participação de cerca de 400 associados. Os funcionários e colaboradores também tiveram acesso a estas informações, que estão sendo tomadas com base no planejamento e estudo de viabilidade, realizado por consultoria externa e equipe interna. Entre as medidas está a suspensão das atividades de suinocultura e bovinocultura de corte, além da abertura de negociação da sua rede de varejo. As ações também foram divulgadas em coletiva de imprensa para explicar as decisões. Entre as medidas anunciadas está a venda ou o encerramento das atividades em dois supermercados: do Shopping Lajeado, que havia recebido investimento de R$ 12 milhões, e do Bairro Alesgut, em Teutônia. A rede de supermercados era composta por 10 unidades físicas. Outras medidas anunciadas são o fechamento de cinco agrocenteres e redução de produção de aves e bovinos. No segmento de Agrocenter, serão mantidas as lojas de insumos, bazar e ferramentas do Bairro Languiru, em Teutônia; e as seções de Agrocenter que atendem junto aos Supermercados Languiru de Bom Retiro do Sul, Cruzeiro do Sul e Poço das Antas. A unidade no Shopping Lajeado segue com suas atividades, mas negociações de toda estrutura da Cooperativa nesse endereço (Agrocenter, Supermercado e Farmácia) estão em pauta. A loja do Bairro Canabarro, em Teutônia, será incorporada ao Supermercado Languiru que está em prédio ao lado. A loja de Arroio do Meio igualmente será incorporada ao Supermercado Languiru no município. Agrocenter localizado no subsolo do Supermercado Languiru de Estrela, as lojas de Venâncio Aires, São Lourenço do Sul e Rio Pardo estão sendo descontinuadas. Para a loja Agrocenter Máquinas do Bairro Languiru, em Teutônia, a Cooperativa analisa possível parceria ou venda. A estrutura de Supermercados Languiru também passa por reorganização. A unidade do Bairro Alesgut será descontinuada nos próximos dias. A unidade junto ao Shopping Lajeado tem tratativas de venda em avaliação, assim como existe a possibilidade de venda de toda rede de Supermercados Languiru. No momento a Cooperativa segue com a loja do Bairro Languiru e as duas do Bairro Canabarro, em Teutônia; Poço das Antas; Bom Retiro do Sul; Arroio do Meio, Cruzeiro do Sul; Estrela; e Lajeado. A situação dos empregados dessas unidades ligadas ao varejo já é pauta de reuniões da Languiru com sindicatos. Alguns estão sendo realocados para estabelecimentos que terão continuidade. Os associados e clientes atendidos, por exemplo, nas lojas Agrocenter e Supermercados descontinuados, estão sendo assistidos e orientados a procurar a unidade da Languiru mais próxima.
Suínos
“A decisão mais difícil é descontinuar a produção de suínos”, afirmou o presidente Paulo Birck. O frigorífico de suínos deve parar até 12 de julho. “A Languiru não vai conseguir sair desse cenário se ela continuar mantendo a operação de suínos”, afirmou. O presidente ainda destacou que o prazo pode ser antecipado. A planta deverá intensificar o volume de industrialização diário, o que contribui para a aceleração da redução do plantel a campo. “Desde o campo, passando pela indústria até a venda, toda a cadeia será descontinuada. Corremos contra o tempo para estancar o prejuízo desse setor, a sobrevida da Languiru depende da interrupção desse ciclo produtivo para redução do custo e prejuízo diário que nos paralisam. Não temos uma solução perfeita, não é uma decisão fácil, mas estamos procurando fazer o possível para auxiliar os associados. Em até 180 dias todo o ciclo deve estar descontinuado”, acrescenta Birck, adiantando que já há produtores que conseguiram fechar negociação com outras empresas. Com isso, o abatedouro deverá ser negociado (venda ou locação) ou utilizado para o abatimento de dívidas da Languiru. Granjas próprias e demais ativos da cadeia de suínos também deverão ser vendidas. Em relação aos empregados, conversações já estão sendo feitas com os sindicatos da categoria. “Havendo alguma empresa interessada no negócio, certamente os empregados poderão continuar trabalhando para a nova organização. Mas até acharmos um comprador, trabalhamos na busca por ajuda do governo e sensibilização de parceiros. As ações pesadas na suinocultura podem ao menos salvar a cadeia avícola, não podemos esperar pela sorte”, estima o vice-presidente da cooperativa, Fábio Secchi. As mesmas medidas estão sendo encaminhadas para a bovinocultura de corte, outra atividade que será descontinuada. O Frigorífico de Bovinos, em Teutônia, será negociado. “A relação com produtores e os animais a campo é mais simples, pois é apenas uma negociação de compra e venda, cuja produção pode ser destinada a outros abatedouros que têm demanda pela matéria-prima”, explica Secchi.
Dívida
A dívida total da cooperativa é mais de R$ 1,162 bilhão. A empresa buscará auxílio de instituições financeiras nos próximos dias com um plano de recuperação em mãos. “Nós precisamos da abertura de portas”, afirma. “Precisamos de alongamento de dívida o mais alargado possível para que possamos nos reorganizar”, disse ele, ao citar agendas com bancos e políticos na próxima semana. O dirigente manifestou a angústia no dia a dia nas decisões sobre o que se paga e o que se deixa para trás. “Não é nada saudável, não é nada positivo para a nossa cooperativa”, destacou. “Você imagina a angústia que é para nós assumir uma cooperativa num cenário como este”, disse ele, que ainda mantém esperanças em salvar a empresa. Birck afirma que a Languiru não tem condições de manter operações se não tiver aporte de recursos. Por isso procura apoio político, financeiro e comunitário para continuar. O presidente lembra da importância que a cooperativa tem para famílias e comunidade regional, para setores como comércio e serviços. No ano passado foram R$ 2,7 bilhões em faturamento, e R$ 261 milhões de valor adicionado aos municípios onde está inserida. A empresa tem R$ 374 milhões em dívidas vencidas ou a vencer com fornecedores, produtores e transportadores. Sua folha de pagamento gira em cerca de R$ 7 milhões. “A Languiru é um Boeing que está com um motor pifado e um motor a meia boca. Se a gente não fizer um motor funcionar, ele cai, e o impacto vai ser grande. Estamos buscando alternativas para tentar pousar ele.”
TEXTO – José Raimundo Tramontini (com inf. Rd. Independente)
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