Com redução nas vendas de soja e fumo, exportações do agronegócio gaúcho registram queda no terceiro trimestre

As exportações do agronegócio gaúcho totalizaram U$ 3 bilhões no terceiro trimestre de 2020, uma redução de 14,5% na comparação com o mesmo período do ano anterior. A baixa nas vendas externas do segmento foram puxadas pelo complexo soja, principal setor exportador do Estado (menos US$ 293,9 milhões; -17,5%), pelo setor de fumo (menos US$ 232 milhões; -39,5%) e pelos produtos florestais (menos US$ 64,9 milhões; -22%). Cereais, farinhas e preparações (mais US$ 78,9 milhões; +103,5%) e carnes (mais US$ 23,6 milhões; +4,8%) tiveram destaque positivo no período. Em valores absolutos, a queda total foi de US$ 506,6 milhões.
No acumulado do ano, entre janeiro e setembro, as exportações do agronegócio somaram US$ 8 bilhões, uma queda de 8,7% (menos US$ 762,3 milhões) quando comparado com os nove primeiros meses de 2019. O resultado negativo foi determinado principalmente pelos setores de produtos florestais (menos US$ 642,2 milhões; -49%) e de fumo e seus produtos (menos US$ 492,3 milhões; -35,8%).
Os dados sobre as vendas externas do setor, que corresponderam a 74,4% das exportações totais do Estado no terceiro trimestre, fazem parte do boletim Indicadores do Agronegócio do RS, divulgado na manhã desta quarta-feira (11) pela Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG) e elaborado pelos analistas do Departamento de Economia e Estatística (DEE/SPGG) Rodrigo Feix e Sérgio Leusin Júnior.
Terceiro trimestre
A estiagem que afetou o Rio Grande do Sul no início de 2020 e o aumento nos embarques no primeiro semestre, impulsionado pela alta nos preços, explicam o resultado negativo do complexo soja no terceiro trimestre. A principal redução nas vendas do setor foi a de soja em grão (menos US$ 274,5 milhões; -19,4%). O setor de fumo registrou a segunda maior queda absoluta no período, com o seu principal produto, o fumo não manufaturado, tendo uma redução de US$ 240,4 milhões em vendas (-43,8%). Neste caso, a estiagem, que reduziu em 22,5% a produção, e a queda dos preços médios em dólar foram as principais responsáveis pelo desempenho.
No setor de cereais, farinhas e preparações, o resultado positivo se deve, principalmente, pelo aumento expressivo nas exportações de arroz (mais US$ 74,7 milhões; +105,1%). Nas carnes, a alta nas vendas de carne suína (mais US$ 66,6 milhões; +66,5%) e da carne bovina (mais US$ 31 milhões; +47,5%) compensaram a redução nas vendas do principal produto do setor, a carne de frango (menos US$ 70,4 milhões; -24%).
Entre os principais destinos dos produtos gaúchos no terceiro trimestre, a China se manteve em primeiro lugar, representando 46,6% do total exportado, seguido da União Europeia (15,6%), Estados Unidos (4,5%), Arábia Saudita (2,7%) e Argentina (1,8%). Apesar de permanecer na liderança, a China foi responsável pela maior redução absoluta no valor das exportações gaúchas (menos US$ 370,9 milhões; - 21%), concentrada na queda das vendas de soja em grão (-18,8%), fumo não manufaturado (-99,2%) e celulose (-57,1%).
Acumulado do ano
Entre janeiro e setembro, mesmo com a redução geral, o complexo soja (US$ 3,5 bilhões) e carnes (US$ 1,5 bilhão) lideraram o ranking de vendas do agronegócio. O boletim aponta o resultado surpreendente das vendas da soja em grão (mais U$$ 96,2 milhões; +3,5%), uma vez que a oferta do produto foi prejudicada em função da estiagem no Rio Grande do Sul. O setor de cereais, farinhas e preparações também surpreendeu, com destaque, novamente, para as exportações de arroz (mais US$ 165,8 milhões; +75,1%).
No caso dos produtos florestais, as vendas de celulose foram as mais prejudicadas, e o Rio Grande do Sul viu sua participação no ranking nacional de exportadores do produto cair de 18,3% em 2019 para 9,8% em 2020.
Quanto aos destinos das exportações nos nove primeiros meses do ano, a China continua na liderança. O país asiático foi o responsável por 45% das compras do agronegócio gaúcho no período, seguido de União Europeia (13,1%), Estados Unidos (4,4%), Arábia Saudita (2,9%) e Coreia do Sul (2,8%). Com exceção da Coreia do Sul (+8,7%), todos os demais do topo do ranking registraram quedas nas compras.
Tendência para o último trimestre de 2020
O documento divulgado pelo DEE aponta que o agronegócio está entre os setores da economia menos prejudicados pela pandemia do coronavírus. A estiagem, no entanto, foi mais impactante, especialmente no setor fumageiro, no qual influenciou a produção em quantidade e qualidade. Para o complexo soja, mesmo afetado pela quebra na produção, os embarques até setembro cresceram em valor e volume. A tendência, no entanto, é de queda acentuada nas exportações no último trimestre do ano.
-Tendo em conta a menor disponibilidade do produto nos armazéns e as necessidades para atender à demanda doméstica das indústrias de rações e óleos vegetais, é possível projetar menores volumes embarcados de soja até dezembro. Além da oferta mais restrita, o período coincide com o escoamento da safra dos Estados Unidos, que registrou um forte crescimento em vendas para o mercado chinês-, explicou o pesquisador do DEE, Sérgio Leusin Júnior.
Emprego formal
No terceiro trimestre de 2020, o Rio Grande do Sul registrou perda de 1.126 postos de trabalho com carteira assinada no agronegócio, reflexo da sazonalidade da produção e dos desdobramentos das atividades agroindustriais. Como comparação, no mesmo período do ano passado a redução foi de 9.020 empregos.
-Em 2020, refletindo a queda da produção agrícola, a contratação de trabalhadores temporários foi menor no primeiro trimestre. Por consequência, nos trimestres seguintes os saldos se tornaram menos negativos, comparativamente ao mesmo período de 2019-, diz Rodrigo Feix.
Entre julho e setembro, o setor de fabricação de produtos do fumo figura como o principal responsável pela redução, com um saldo negativo de 6.812 empregos com carteira assinada, ainda que, na comparação com o mesmo período de 2019 (-9.351 empregos), a perda tenha sido menor. Essa diferença se explica, principalmente, pelo alargamento da janela de processamento do fumo, associada aos desdobramentos da pandemia.
Nos destaques positivos, a indústria de carnes (+1.611 empregos), impulsionada pela demanda externa, atingiu o recorde de empregos ativos da série histórica acompanhada pelo Ministério da Economia, iniciada em 2007, com um total de 64.762 empregos. -Cada vez mais esse setor se consolida como o principal empregador da agroindústria gaúcha-, afirma Feix.
No acumulado do ano, o saldo positivo na criação de postos de emprego formal no agronegócio foi de 7.969 vagas. O resultado é positivo quando comparado com o mesmo período de 2019, em que houve criação de 683 postos, e com o conjunto da economia gaúcha, que até setembro de 2020 tinha perdido 74.445 postos de trabalho com carteira assinada. Assim como no terceiro trimestre, o destaque no ano foi o setor de abate e fabricação de produtos de carne, com a criação de 5.219 postos de emprego formal.
Para o último trimestre do ano, no entanto, o boletim aponta uma tendência de saldos negativos de emprego formal, especialmente na indústria do fumo.
Texto: Governo do RS
Foto: Reprodução/Google