Apicultores celebram alta na safra de mel nos vales do Taquari e Caí

-Infelizmente, por causa da estiagem, um ano ruim para a agricultura será um ano bom para a apicultura. A frase dita para apicultor Celso Borba, de Paverama, resume, em parte, a sensação vivida pelos produtores de mel dos vales do Taquari e Caí. A falta de chuvas, tão prejudicial para grande parte dos cultivos, acaba favorecendo a safra de mel, que poderá ter um aumento de até 50% no volume colhido das colmeias. No caso de Borba, a média da colheita do ano passado foi de 40 quilos de mel por caixa. -Em 2020, esse número pode chegar próximo dos 60 quilos por colmeia-, calcula.
A explicação para este cenário favorável, de acordo com o apicultor, tem a ver com o fato de, em épocas de estiagem, a floração ocorrer em períodos mais espaçados e não toda de uma vez só, como acontece em situação de normalidade climatológica. A explicação de Borba é avalizada pelo zootecnista da Emater/RS-Ascar, João Sampaio, que afirma que a falta de precipitações em ambas as regiões tem contribuído para que as abelhas fiquem mais livres para a visitação às floradas, com as plantas mantendo suas estruturas mais preservadas. -Isso oportuniza uma maior troca de pólen e a consequente reprodução vegetal-, enfatiza.
Indo um pouco mais a fundo na explicação, Sampaio argumenta que o pólen, além de ser um gameta reprodutivo, é para as abelhas a grande fonte de proteína que estimula sua reprodução, o que também favorece o aumento do número de abelhas nos enxames. -Já o néctar é uma substância atrativa, pois possui grande concentração de açúcares, e é a fonte de energia para a produção do mel”, salienta. Nesse sentido, Sampaio diz acreditar que a estiagem se apresenta como uma situação favorável para a economia de energia das abelhas e para a reservação do alimento para os períodos mais frios. “E isso já começa a ser observado-, garante.
A apicultora Zilda da Costa, da agroindústria Favo de Mel, de Marques de Souza, confirma a tese de que vem aí uma supersafra de mel. -Inicialmente estávamos um pouco pessimistas, mas, no começo deste ano, com os dias quentes e a ausência de chuvas, as caixas enchiam a cada 15 dias-, comenta. Dessa forma, a perspectiva é de que haja um salto de produção, que deverá chegar à média de 35 quilos de mel por caixa, contra os 25 do ano passado. Sobre o perfil de consumo, em época de Covid-19, tanto Zilda quanto Borba garantem ter havido um aumento na procura “doméstica”. -Trata-se de um alimento saudável-, reforça Zilda.
Sobre o preço pago para o agricultor, que preocupa quando a oferta é muito grande, ambos afirmam que pode haver perdas, especialmente no mercado externo, já que a pandemia acaba por represar a produção. -Na entrega direta ao consumidor, o preço tem girado em torno de R$ 15 pelo quilo-, declara Zilda. Já Borba avalia que a abertura vagarosa ao mercado externo pode representar recuperação do preço pago ao apicultor, diferente do que ocorre na venda direta, que teria mantido certa estabilidade. -Mas em geral pode-se dizer que a safra será, como um todo, satisfatória-, completa Borba.
Nos 55 municípios da região dos vales que integram o Escritório Regional da Emater/RS-Ascar, que atua em parceria com a Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), os 945 apicultores produzem mel em 18.941 colmeias. Durante o ano de 2020, o serviço de Extensão Rural deverá acompanhar 270 produtores e 10.027 colmeias. A produção total deverá ser de mais de 290 toneladas de mel, com uma média de 28,9 quilos por colmeia. -Atualmente, já foram colhidas 72 toneladas do produto, com 93 agricultores envolvidos-, finaliza Sampaio.
Foto: Divulgação/Emater/RS-Ascar – Regional de Lajeado